Meu colar de âmbar

Não posso deixar de dizer o que indecifravelmente sinto. 
A questão é para quem dizer? 
O sino da Igreja São Pedro toca neste momento. 
Muitos não percebem quando toca. Outros se incomodam.
E uns poucos param o que estão fazendo ou pensando para escutar o sino...
O que sinto é a mistura da verdade do sino com as cores de muitas petúnias da minha sacada.
Meu tempo livre é me prender em tudo que sinto.
Posso contemplar agora a liberdade dos sabiás.
A cantiga deles indo de volta para casa...
É a minha cantiga dentro de casa.
E meu interior é um rio de muitos peixinhos...
Quando por ele meus pés caminham...
Sempre volto com algo a mais;
Uma palavra feito colar de âmbar,
Um verso pronto para visitar...
Sei que não sei ser de outro jeito.
Intensa a ponto de estar sempre a partir...
Por isso, agradeço quando piso numa pedra pontuda desse rio.
É na ferida que se aprende a caminhar.
Outro dia estava me banhando numa cachoeira,
que na verdade era o chuveiro mesmo...
E descobri que sendo chuva, já não chove...
Mas, ainda assim é bom esperar chover...
Sendo o canto, já não canta...
mas, é bom esperar cantar...
Sendo vento, já não venta...
mas, é bom esperar ventar...
E sendo espera, já não espera...
Mas, é bom ver a espera chegar.
Pode ser em forma de miudinhas sementes...
Destas que as petúnias não cansam de me dar...
As sementes não se bastam em si mesmas...
Por isso sei que devo continuar.

                                Susana Raposo








 


Comentários

  1. É daqueles textos que não dá pra pegar tudo de uma lida só. Tenho que voltar depois. Muito bom.

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  2. Susana, que lindo este poema!!! Muito lindo mesmo! Você tem uma alma sensível e poética, mesmo! Deus te inspire!!! ♥️

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